sábado, 28 de julho de 2012

A história da bocha....

A bocha é um jogo cuja versão atual consiste em arremessar bochas (bolas), de madeira, metal ou resina sintética em direção a uma pequena bola denominada bolim, balim ou jack, sobre uma cancha, objetivando aproximar-se o máximo possível do “bolim” (pequena bocha). Será considerado vitorioso o jogador ou a equipe que somar o maior número de pontos, pontos esses atribuídos de acordo com a perfeição das jogadas. A bocha é praticada em uma cancha (ou quadra), que pode ser de terra, de saibro ou material sintético, cercada por bordas de madeira. As dimensões das canchas oficiais são as seguintes: européias – 27 x 4 metros e sul-americanas – 24 x 4 metros. As canchas de outras dimensões servem unicamente para jogos amistosos. As bochas, nome dado às bolas, devem ter no mínimo 11,2 cm de diâmetro e no máximo 11,5 cm, são maciças e de peso uniforme oscilando entre 1050 e 1150 gramas para os jogos sul-americanos. Na Europa, há variações para menos, tanto nas dimensões como no peso. A bocha pode ser jogada entre duas pessoas em caráter individual, em duplas ou em trios. O jogo começa com o arremesso do bolim, decidindo-se, por sorteio, qual a equipe que lançará o bolim a uma distância mínima de um metro além da metade da cancha (ou quadra).
Origem: O Jogo da Bocha é considerado um dos mais antigos do mundo, havendo indícios de que ele tenha sido praticado no Egito e na Grécia antiga. Há controvérsias quanto à sua origem. Alguns consideram suas raízes italianas, tendo a bocha sido a primeira organização formada em Turim, em 1888, com um primeiro campeonato realizado em Gênova, em 1951. Segundo a Federação Paulista de Bocha e Bolão, os latinos a propagaram extensivamente durante a Idade Média, tendo sido mais tarde, proibida sua prática, pelo então Patriarca de Veneza em 1576. Posteriormente, o jogo foi fomentado na Corte de Elizabeth I da Inglaterra e, mais tarde, imitado na Itália. A Federação de São Paulo noticia que o jogo foi difundido no mundo por influência dos povos francês e italiano. Na Itália, a primeira organização esportiva do Jogo da Bocha foi fundada no dia 4/11/1877, na cidade de Rivoli, com a denominação de “União do Piemonte” (Almanaque Correio do Povo, 1976: 152). Em resumo, o Jogo da Bocha tem sido um dos traços culturais da comunidade italiana.
A emergência do Jogo da Bocha, no Rio Grande do Sul, está relacionada à chegada dos primeiros imigrantes italianos, em fins do século XIX. Em Porto Alegre, a comunidade italiana totalizava 10% da população, cerca de 6.000, em 1893 (Constantino, 1994: 94). Esta comunidade se reunia nos finais de semana, após a missa (igreja católica), para praticar o Jogo da Bocha, que representava uma das principais atividades de lazer dos homens. No princípio, o jogo era realizado com marmelos, fruta típica da região da serra do Rio Grande do Sul, cujo aspecto é semelhante à bocha (Ampessan, 2000). Hoje, esse Estado constitui a região do Brasil em que a Bocha tem mais destaque, embora este esporte possa ser considerado como parte da cultura de todo o sul do país, tendo portanto uma prática difusa e ligada às tradições comunitárias locais.
Final do Século XIX: Os imigrantes italianos fundaram, em algumas cidades do Rio Grande do Sul, as Societàs italianas, nas quais foi institucionalizado a prática do Jogo da Bocha: Bagé (Società Italiana di Soccorso Mutuo e Beneficenza, em 01/01/ 1871); Pelotas (Società Italiana Unione e Filantropia, em 1873); Santana do Livramento e Rivera (Società Italiana di Mutuo Soccorso, Unione e Benevolenza, em 07/5/1876); Porto Alegre (Società di Mutuo Soccorso e Benevolenza, em 10/7/1877); Santa Vitória do Palmar (Società Benevolenza, em 1879); Rio Grande (Società. Italiana di Soccorso Mutuo, em 1884); Caxias do Sul (Società Italiana di Mutuo Soccorso di Caxias, em 11/11/1887); Rosário do Sul (Società Italiana de Bocha Gugliermo Marconi, final do século XIX); Santa Maria (Società Italiana di Soccorso Mutuo, em 1892). De acordo com Constantino (1994: 94), desde a década de 1870 existiam associações italianas em Uruguaiana e Alegrete. Estas sociedades, além de prestarem um serviço de ajuda mútua aos imigrantes italianos, também promoviam o ensino e a difusão da cultura italiana (Licht, 1992).
Início do Século XX: O Jogo da Bocha era praticado no Brasil sobretudo em festas religiosas, nas zonas de colonização italiana: São Paulo, sul de Minas Gerais, pequenas comunidades do Espírito Santo e Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Neste último estado ocorre a expansão do jogo por meio da fundação de associações esportivas identificadas com a comunidade italiana (descendentes atuais no país: 25 milhões).
1915: Em 05 de março deste período, é fundada a Sociedade Gondoleiros no populoso Bairro São João, em Porto Alegre. Além da bocha, a sociedade desenvolveu outros esportes como o Tênis, bolão, judô, futebol de salão e patinagem (Licht, 1992). Os fundadores foram: “Oscar Hampe, Francisco Düring, Oscar Ansolch, Antonio Brayer, Walter Sperb, Domingos Vergona, José Sanguineti, José Viana, Antonio Genta, Alfredo da Fonseca, Alberto Marques, Ulysses Pinto, André Rumi, Américo Telini, Manoel Silveira, José Manganelli, Hermenegildo Silveira, Carlos Jostes, Luiz de Batim, Emilio da Silva Pinto, Leonel Candido, Jacob Ferrantino, Salvador Vigna, Oriovaldo de Oliveira, Hostiano Gomes, Sebastião Vargas, Antonio Soares da Fonseca, Hugo Garcia, Caetano Garrafiel e Ataliba Cunha” (Daudt, 1952: 111).
1927: Em 06 de dezembro, é fundada a Sociedade União Vila Nova pelos imigrantes italianos e seus descendentes, no Parque Monteggia Vila Nova, em Porto Alegre. Os esportes principais eram a Bocha e o Futebol (Amaro Júnior, 1942).
Década de 1930: Neste período, o Jogo da Bocha foi trazido para a América do Sul como um esporte institucionalizado, com base inicial na Argentina, Paraguai e Uruguai, sendo oficializada com a fundação da Federação Argentina de Bochas. Conforme De Boni (1994: 99), no período compreendido entre 1875-1935, aproximadamente 1,5 milhões de italianos entraram no Brasil e cerca de 100 mil instalaram-se no Rio Grande do Sul. Neste estado, o Jogo da Bocha expandiu-se, sendo fundadas as seguintes associações especializadas em Porto Alegre: Club de Bocia Caminho do Meio (Club Sportivo Caminho do Meio), em 02/12/ 1930 (sede na Rua São Manoel nº 556); Círculo Operário Ferroviário do Rio Grande do Sul, em 22/9/1937 (sede na Avenida Farrapos nº 146, sala 44); Club de Bocias Central, em 02/02/1938 (localizado inicialmente na Rua Beiruth com a Travessa Simão Kappel, depois mudou para a Travessa São José nº 430, no Bairro Navegantes, em Porto Alegre), cujos fundadores foram José Groff; Tenente Nicacio Gomes; Julio Lima; Tenente João Amaral; Bruno Swoboda (Brasil, 1977: 364). No final da década, a maioria das “Società Italiana” encerrou suas atividades sociais, culturais, filantrópicas e esportivas ou foram encampadas por outras associações desportivas, em razão da chamada Lei da Nacionalização – Decreto-Lei nº 868 de 18/11/ 1938 (Licht, 1992). A prática do Jogo da Bocha sofreu um forte impacto, tendo em vista o controle do governo exercido sobre as associações esportivas.
Década de 1940: No Brasil, este jogo foi reconhecido como esporte pela Confederação Brasileira de Desportos-CBD, em 1943. Foi então fundada a Confederação Sul-Americana de Bocha, e organizado o I Campeonato Sul-Americano Masculino em Buenos Aires, na Argentina, em 1944. Além da Argentina, participaram representantes do Paraguai e Uruguai. O Brasil não participou porque ainda não era filiado (Ampessan, 2000). A primeira entidade municipal do Estado do Rio Grande do Sul, a Associação Porto Alegrense de Bocha, cujo primeiro presidente foi Anselmo Manzoli Filho, foi organizada em 09/04/1942. Esta entidade extingui-se dois anos depois (04/04/1944) e, na mesma data, foi criada a Federação Rio-Grandense de Bocha, em cumprimento ao Decreto- Lei nº 3.199/1941 (ato que organizou o esporte brasileiro). As associações fundadoras foram: Grêmio Esportivo Teresópolis de Bocha, Clube de Bocha Central, Sociedade União Vila Nova, Esporte Clube São José, Grêmio Esportivo Renner, Ipiranga Futebol Clube, Grêmio Esportivo Gaúcho, Associação Desportiva Inca, Sociedade Gondoleiros, Clube Esportivo Caminho do Meio. A primeira diretoria da Federação foi composta por: “Antonio Joaquim Mesquita (presidente), João Eugênio Haussen (vice-presidente), Atílio José Rapone (2º vice-presidente), Hugo Schmith (secretário geral), Valdemar Aita (secretário adjunto), Oswaldo Dias da Costa (tesoureiro), Alcibíades Ferreira bastos (tesoureiro), Oldrado Ramos, Alberto Montego e Euribiades Gomes (membros do Conselho Fiscal)” (Daudt, 1952: 187).
A Federação Rio-Grandense de Bocha promoveu vários campeonatos em Porto Alegre. No I Campeonato de Bocha de Porto Alegre, realizado em 1944, participaram dez clubes: Clube Esportivo Caminho do Meio, Clube de Bochas Central, Clube Bochófilo Navegantes, Sociedade Gondoleiros, Esporte Clube Ipiranga, Sociedade União Vila Nova, Grêmio Esportivo Bento Gonçalves, Clube Independente e Clube Teresópolis. Sagrou-se campeão o Clube de Bocha Central, vice-campeão, o Clube Esportivo Caminho do Meio e em terceiro lugar, o Grêmio Esportivo Renner. O I Campeonato Estadual de Bocha foi realizado em 1945, em Porto Alegre, no qual sagrou-se campeão, o Clube de Bocha Central e vice-campeão, a Sociedade Caxiense de Bochas. Neste ano, foi fundado o Clube Bochófilo Navegantes (01/11/1945), em Porto Alegre. Em 1946, o campeão e vice-campeão do Campeonato Estadual de Bocha foram, respectivamente, Clube Esportivo Caminho do Meio e Sociedade Caxiense de Bocha. Participaram do Campeonato Estadual as seguintes associações: Grêmio Esportivo Mauá (Bento Gonçalves), Clube Esportivo Caminho do Meio (Porto Alegre) e Sociedade Caxiense de Bocha (Caxias do Sul), que até 1952 era a única associação de Bocha filiada à Federação. Além de conquistar o Campeonato Estadual, o Clube Esportivo Caminho do Meio de Porto Alegre, conquistou o tricampeonato de Bocha no Campeonato de Porto Alegre. No Campeonato Estadual realizado em 1947, a Sociedade Caxiense de Bochas foi campeã e o Clube Esportivo Caminho do Meio foi vice-campeão. Em 15/02/1948 foi fundada em Porto Alegre a Sociedade de Bocha Rio Branco. A década de 1940 apresenta a maior freqüência de reportagens sobre a Bocha, nos principais jornais porto-alegrenses, em relação às décadas de 1950 e 1960 (Silva, 1997: 68).
Década de 1950: O Brasil se filiou à Confederação Sul-Americana de Bochas, participando do IV Campeonato realizado na Argentina por esta entidade, em 1950. Até então, nos jogos brasileiros a regra praticada era o “ponto” e “bota”. A partir da filiação foram adotadas as regras oficiais, permanecendo as regras não oficiais somente em jogos de caráter recreativo. Em 1951 foi realizado o I Campeonato Mundial Masculino de Bocha, em Gênova (Itália), mas o Brasil não participou. No ano seguinte a CDB promoveu o V Campeonato Sul-Americano, em São Paulo. Em 1957, o Brasil participou do II Campeonato Mundial de Bocha, realizado em Montevidéo (Uruguai). No Rio Grande do Sul, assumiu o novo presidente na Federação Rio-Grandense de Bocha, Oswaldo Rosa da Costa, em 1951. Em 1952, assumiu a presidência da Federação Rio-Grandense de Bocha, Potiguara Freire, que permaneceu até 1962. No período de 1953 a 1959, foram criadas várias ligas de Bocha no interior do Rio Grande do Sul: Liga Santanense de Bochas (Santana do Livramento, 07/09/1953), Liga Caxiense de Bocha (Caxias do Sul, 14/12/1959), Liga Santamariense de Bocha (Santa Maria, 31/03/1959). Também surgiram algumas sociedades no interior do Estado: Sociedade Bochófila Pratense (Nova Prata, 24/ 06/1952) e Sociedade Bochófila Rio Branco (Nova Prata, 01/03/ 1959). Em Porto Alegre eram realizados campeonatos com a participação das equipas locais como: Grêmio Esportivo Renner, Neugebauer e Zivi (Macchi Jr, 1955: 36).
Década de 1960: No Brasil, foi realizado o I Campeonato Brasileiro Masculino de Bocha, em 1964, na cidade de São Paulo, com a participação do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Sagrou-se campeão o Estado do Rio Grande do Sul, e São Paulo foi vice-campeão. Em 1966, teve início a participação feminina na prática deste esporte, culminando na criação de um departamento feminino pela Federação Paulista e a realização do I Torneio Misto de Bocha. Em 1968 foi realizado o II Campeonato Brasileiro de Bocha. No Rio Grande do Sul, a presidência da Federação Rio-Grandense de Bocha foi ocupada por Antenor Lopes dos Reis, em 1963. O ex-presidente Oswaldo Rosa da Costa retornou para ocupar a presidência no período de 1964 a 1966. No ano de 1967, assumiu a presidência Pery Soares de Souza.
Foram organizadas novas associações de Bocha nas praças e centros de comunidade de Porto Alegre: Associação dos Moradores da Vila Elizabete e Parque – AMVEP, em 1962; Associação dos Moradores e Amigos da Vila Jardim – Vila Jardim, em 1962; e Associação Jardim Barão do Cahy – Barão do Cahy, em 1969. Neste último ano, no Estado do Rio Grande do Sul havia 7.563 desportistas praticantes de Bocha, sendo 7.403 do sexo masculino e 209 “menores”, em 1969 (DaCosta, 1971: 209).
Década de 1970: No Brasil foi realizado o III Campeonato Brasileiro de Bocha, em 1971 e no ano seguinte o IV Campeonato Brasileiro. Em 1975, as regras não oficiais, ainda amplamente utilizadas, geraram a modalidade “Pontobol”, “Rafa” ou jogo livre, sendo então implantada oficialmente pela Confederação Brasileira de Desportos – CBD. No Brasil, esta modalidade é praticada apenas nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em 1978, o Brasil conquistou o título de campeão sul-americano. No ano seguinte, a Confederação Brasileira de Desportos deixou de dirigir os esportes não olímpicos, sendo criada em sua substituição a Confederação Brasileira de Desportos Terrestres-CBDT. No Rio Grande do Sul, em 1971, assumiu a presidência da Federação Rio-Grandense de Bocha, Edgar Christmann. Neste mesmo ano, a Associação Leopoldina Juvenil, uma sociedade fundada pelos imigrantes alemães, inaugurou suas canchas oficiais de Bocha.
O ex-presidente da Federação Rio-Grandense de Bocha, Pery Soares de Souza voltou a ocupar a presidência em 1972. Seu intenso trabalho junto a esta Federação rendeu-lhe o título de patrono da Bocha do Rio Grande do Sul. Em 1974, Edgar Christmann, novamente ocupou o cargo de presidente (até 1978). Foram organizadas novas ligas de Bocha no interior do Estado: Liga Passofundense de Bochas (Passo Fundo, 26/02/1972), Liga Alegretense de Bocha (Alegrete, 22/07/1974), Clube de Bochas Avenida (Carlos Barbosa, 01/10/1975). O Primeiro Campeonato Estadual Juvenil de Bocha de Porto Alegre, cujo campeão foi o Clube Independente e vice-campeão, o Clube de Atiradores Santamariense foi realizado em 1977. Foram fundadas várias associações de Bocha pelas comunidades de Porto Alegre: Centro Comunitário – COINMA (1971); Associação dos Moradores Passo da Mangueira – AMVIPAM (1971); Associação dos Servidores DEMHAB – Departamento Municipal de Habitação (1972); Associação dos Moradores de Conjunto Residencial – Protásio Alves (1972); Recanto da Velha Guarda em 28/12/1976 (atual Sociedade Esportiva Recanto da Alegria – SOERAL); Associação Comunitária Parque dos Maias – Parque dos Maias (1978) (dados fornecidos pela SME/PMPA, 2003).
Década de 1980: Neste período, no Rio Grande do Sul, a Federação de Bocha, possuía 191 clubes filiados por intermédio das ligas, 16 clubes de Porto Alegre diretamente filiados, e 85 clubes do interior filiados, totalizando 292 clubes filiados e a inscrição de 12.580 atletas.
As mulheres participaram pela primeira vez, oficialmente, do Jogo da Bocha em caráter de demonstração visando sua participação nos campeonatos, em 1983. O I campeonato Sul-Americano Feminino de Bocha, aconteceu em São Caetano do Sul (São Paulo), em 1987. Também foi realizado neste ano o I Campeonato Brasileiro Feminino de Bocha, com a participação de cinco Estados: Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina, sendo vencedora a equipe de São Paulo. Em Porto Alegre foi realizado o I Campeonato Feminino de Bocha, em 1988, cuja classificação foi Glória Tênis Clube (1º lugar), AMVIPAM (2º lugar), CTG Tiaraju (3º lugar), Rio Branco e Progresso (4º lugar). A primeira tentativa para transformar a Bocha em esporte olímpico ocorreu durante a realização do Campeonato Mundial na Itália, em 1989. Os dirigentes esportivos da Confederação Brasileira de Desportos Terrestres (atual Confederação de Bocha e Bolão), Nelson Nogarolli (presidente), e Adão Gomes dos Santos (vice-presidente) participaram do encontro com dirigentes europeus para discutir o assunto. Com o falecimento do vice-presidente e o pedido de demissão do presidente da CBDT, as propostas não foram encaminhadas (Ampessan, 2000).
Década de 1990: Foi instalada a Confederação Brasileira de Bocha e Bolão, cujo primeiro presidente foi Victorio Pellicari, em 4/5/1991. Em 1992, foi criada a Confederação Paulista de Bocha, com sede em São Paulo, que passa então a ser responsável pela administração e organização dos eventos, em 1992. Realizado o Campeonato Mundial de Bocha, na cidade de Garibaldi (Rio Grande do Sul), em 1998, no qual o Brasil conquistou o primeiro lugar. Neste mesmo ano aconteceu o Campeonato Mundial de Seleções em Erechim (Rio Grande do Sul) como também o Primeiro Campeonato Brasileiro de Bocha Rafa.
Este período foi um marco para a Federação Rio Grandense de Bocha, que contabilizou aproximadamente 40 ligas, 310 clubes e 11.600 atletas filiados, sendo 10.000 homens e 1.600 mulheres, sem contabilizar os praticantes de cancha de rua (Achilles Ampessan, entrevista em 11/11/2003). As cidades onde a bocha se destacou foram Santa Maria, que tinha a maior liga de clubes, São Sepé, Uruguaiana e Alegrete. Nos Jogos Intermunicipais do Rio Grande do Sul (JIRGS), as competições de bocha (categoria masculino e feminino) integraram a programação em 1991 (Licht, 1992). Em 1992, foi fundada em Porto Alegre a Società Taliana Massolin di Fiori, visando promover a prática do Jogo da Bocha, além do ensino da língua italiana e outros aspectos desta cultura.
A Associação Leopoldina Juvenil construiu uma segunda cancha de Bocha e “instalações propícias para a realização de campeonatos com a participação de equipes visitantes, em 1996. Jantares ou churrascos a moda gaúcha, costumam encerrar as disputas” (Teixeira, 2001: 94). As quatro equipes oficiais da Sociedade são: Coringa, Faísca, Veteranos e Amizade. O Jogo da Bocha expandiu-se nos centros de comunidade e praças de Porto Alegre: Associação Esportiva Bochófila Chácara das Pedras – Chácara das Pedras (1990); Centro Comunitário Parque Madepinho – CECOPAM (1991); Centro Esportivo Recreativo Correio do Povo – CERCOP (1992); Departamento de Bocha da Praça Piratini – Piratini (1992); Liga de Bocha – INTERCAP (1992); e Associação de Bom Jesus – Bom Jesus (1994); Associação Cristo Redentor – ASSERCRIR (1996).
2000-2002: O Estado do Rio Grande do Sul totalizava, aproximadamente, 25 ligas de Bocha, 190 clubes filiados e 6.000 atletas, em 2000. A queda de clubes filiados e ligas em relação à década anterior foi justificada em razão do empobrecimento dos clubes (Telmo Bonatto Tonhi, entrevista em 06/11/2003 ). Os municípios do Rio Grande do Sul com número expressivo de atletas eram: Porto Alegre: 995 atletas, sendo 819 do sexo masculino (M) e 176 do sexo feminino (F); Santa Maria: 631 atletas, sendo 510 M e 121 F; Garibaldi: 469 atletas M; Caxias do Sul: 277 atletas, sendo 225 M e 52 F; Cachoeira do Sul: 268 atletas, sendo 198 M e 70 F; Sobradinho: 268 atletas, sendo 263 M e 5 F; São Borja: 266 atletas, sendo 190 M e 76 F; Nova Prata: 245 atletas M; Veranópolis: 198 atletas M; Faxinal do Soturno: 175 atletas, sendo 159 M e 16 F; Passo Fundo: 148 atletas, sendo 93 M e 55 F; Erechim:132 atletas, sendo 107 M e 25 F (Ampessan, 2000: 17). A tradição do jogo da Bocha no Estado foi um dos fatores que influenciou a realização do Campeonato Mundial de Seleções na cidade de Garibaldi. Do total de 16 campeonatos brasileiros de bocha realizados até o ano 2000, o Rio Grande do Sul é o Estado com maior número de vitórias (8) seguido de São Paulo (5) e Santa Catarina (3). O Estado do Rio Grande do Sul foi sede do Campeonato Mundial de Seleções em 2002, realizado na cidade de Venâncio Aires. No mesmo ano, foi realizado o Campeonato Mundial de Clubes de Bocha na cidade de Passo Fundo (RS), com a participação de 12 países.
A Federação Rio-Grandense de Bocha, desde 2001, publica, quinzenalmente, “O Bolim”, um boletim organizado por Achilles Ampessan que informa “tudo sobre a bocha” (entrevista com atletas, carnês dos campeonatos porto-alegrenses, torneios e campeonatos realizados no Estado e país, dados históricos sobre o Jogo da Bocha e textos sobre saúde, ambiente, educação, entre outros temas). Em 2002, foi organizada a Associação de Bocha Chico Mendes, no Parque Chico Mendes em Porto Alegre.
Situação Atual: Oficialmente, existem no mundo, quatro modalidades deste jogo, a saber: Zerbin – reconhecido pela Federation Internacionale de Boules; Punto-Rafa-Vollo –Confederazion Boccistica Internazionale; Sul-Americana – Confederação Sul- Americana de Bochas e; Bocha-Rafa – praticada apenas no Brasil. Neste país, segundo a Confederação Brasileira de Bocha e Bolão, existem 10 Federações filiadas. Somando-se todas as Federações têm-se aproximadamente 78 ligas e um número estimado de 620 clubes cadastrados nas Federações. Há ainda informação de um número expressivo de clubes onde o Jogo da Bocha é praticado, porém sem registros nas Federações. No Brasil a Bocha é praticada nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul tanto na versão comunitária de lazer como na esportiva.
A Federação Rio-Grandense de Bocha é considerada a maior federação de esporte amador do país em razão do expressivo número de clubes organizados com sede própria e estatuto (Walques Batista dos Santos, entrevista em 06/11/2003). Em 2003, os atletas gaúchos, representando a Confederação Brasileira de Bocha e Bolão, participaram do Campeonato Mundial de Seleções realizado na Suíça, no qual o Brasil obteve o 3º lugar entre 20 países participantes. De acordo com Ampessan (2000), as competições realizadas nos países sul-americanos seguem regulamentos diferenciados dos países europeus, sendo que esta falta de uniformidade é um dos fatores que impede a transformação da Bocha em um esporte olímpico. A Federação Rio-Grandense de Bocha e a Federação Bochófila Paulista, juntamente com dirigentes da Confederação Brasileira de Bocha e Bolão estão retomando o debate a respeito da inclusão do esporte da Bocha nos Jogos Olímpicos.
No mês de janeiro, a Federação Rio-Grandense de Bocha promove os campeonatos de bocha nas praias. Tradicionalmente, em Capão da Canoa é realizado o Campeonato Praiano de Bocha e na praia de Rainha do Mar o Campeonato Praiano de Veteranos (O Bolim, nº 35, 10/12/2003, p. 2). Além dos clubes, a Bocha é praticada em canchas públicas localizadas, especialmente nas praças e parques de Porto Alegre. Por exemplo, no Parque Moinhos de Vento, Parque Marinha do Brasil, Parque Harmonia, Parque Farroupilha (Redenção), na Vila do IAPI. Nas canchas localizadas no Parque da Redenção, no local denominado Recanto da Alegria, a freqüência de jogadores em alguns dias ultrapassa os 150 competidores, que tem idade superior a 40 anos de idade (Steiger, 1987). A Secretaria Municipal de Esportes, Recreação e Lazer (SME) de Porto Alegre promove, anualmente, campeonatos de Bocha dirigidos às associações de Bocha que possuem canchas naturais e canchas sintéticas. O Campeonato de Bocha realizado em 2003 contou com a participação de nove associações com canchas naturais, cada uma representada por 24 atletas, totalizando a participação de 216 atletas.
No campeonato de Bocha em canchas sintéticas participaram 14 associações, totalizando 444 atletas, a saber: Associação dos Moradores da Vila Elizabete e Parque – AMVEP, com 90 associados (sede na Avenida 21 de Abril, 792 – Sarandi); Associação dos Moradores e Amigos da Vila Jardim – Vila Jardim, com 50 associados (sede na Avenida Saturnino de Brito, 1350, Vila Jardim); Associação Jardim Barão do Cahy – Barão do Cahy, com 70 associados (sede na Rua Ari Barroso, 855); Associação dos Moradores Passo da Mangueira – AMVIPAM, com 110 associados (sede na Rua João Luderitz, 285 – Passo D’Areia); Centro Comunitário – COINMA, com 25 associados (sede na Rua República do Peru, 380); Associação dos Servidores DEMHAB – Departamento Municipal de Habitação, com 18 associados (sede na Rua Conde D’Eu, 1057 – Santana); Sociedade Esportiva Recanto da Alegria – SOERAL, com 130 associados (sede na Rua José Bonifácio, s/nº – Parque Redenção); Associação Comunitária dos Moradores do Bairro Anchieta – ACOMBA, com 30 associados (sede na Avenida Jaime Vignoli, 85); Associação dos Profissionais em Telecomunicação e Tecnologia da Informação – ASTTI, com 80 associados (sede no Beco Souza Costa, 750 – Jardim Ipu); Associação dos Amigos da Praça Franck Long – Franck Long, com 80 associados (sede na Avenida Grécia, 707 – Passo D’ Areia); Associação de Bocha Marechal Mesquita – Marechal Mesquita, com 45 associados (sede na Rua Carlos Ferreira, 160, Teresópolis); Associação Esportiva Bochófila Chácara das Pedras na Chácara das Pedras, com 60 associados (sede na Avenida Teixeira Mendes, 830); Liga de Bocha – INTERCAP, com 50 associados (sede na Rua Doutor Fernando Ortiz Schneider); Departamento de Bocha da Praça Piratini – Piratini, com 65 associados (sede na Praça Piratini); Associação Cristo Redentor – ASSERCRIR, com 60 associados (sede na Rua Sapé, 800) (dados fornecidos pela SME/PMPA, 2003).

A historia da pipa...

A história das pipas é recheada de mistérios, de lendas, símbolos e mitos, mas principalmente de muita magia, beleza e encantamento. Tudo de ter começado quando o homem primitivo se deu conta de sua limitação diante da capacidade de voar dos pássaros. Essa frustração foi o mote para que ele desse asas a sua imaginação.
 

O primeiro vôo do homem está registrado na mitologia grega e conta que Ícaro e seu pai, Dédalo, aprisionados no labirinto de Creta pelo rei Minos, tentaram alcançar a liberdade voando. Construíram asas com cera e penas e conse-guiram escapar. Apesar das recomendações do pai embevecido pela possibilidade de dominar os ventos, Ícaro negligenciou a prudência e chegou muito perto do Sol, que derreteu a cera das asas e precipitou-o ao mar matando-o.

 
De qualquer forma o homem não parou por aí. Mesmo levando em conta o estranho acidente da lenda de Ícaro, ele continuou a ousar, desafiando a natureza com sua imaginação. As pipas nascem desta tentativa frustrada de voar, quando o homem transferiu para um artefato de varetas, papel, cola e linha sua vontade intrínseca de planar, de alçar vôo de terra firme.Teorias, lendas e suposições tendem a de-monstrar que o primeiro vôo de uma pipa ocorreu em tempos e em várias civilizações diferentes, mas, com toda certeza, a data aproximada gira em torno de 200 anos antes de Cristo. O local: China.


 

No Egito hieróglifos antigos já contavam de objetos que voavam controlados por fios. Os fenícios também conheciam seus segredos, assim como os africanos, hindus e polinésios. Até o grande navegador Marco Polo (1254 - 1324) explorando-lhe as potencialidades, embora levado por motivos menos lúdicos. Conta-se que, em suas andanças pela China, ao ver-se encurralado por inimigos locais, fez voar uma pipa carregada de fogos de artifício presos de cabeça para baixo, que explodiram no ar em direção à terra, provocando o primeiro bombardeio aéreo da história da humanidade.Nos países orientais foi e continua sendo grande a utilização de pipas com motivos religiosos e místicos, como atrativo da felicidade, sorte, nascimento, fertilidade e vitória. Exemplo disto são as pipas com pintura de dragões, que atraem a prosperidade; com uma tartaruga (longa vida); coruja (sabedoria) e assim por diante.

Outros símbolos afastam maus espíritos, trazem esperança , ajudam na pesca abundante. As pinturas com grandes carpas coloridas representam e atraem o desenvolvimento do filhos. Nesses aspectos mistico-religiosos, continua sendo muito grande a utilização de pipas como oferenda aos deuses nos países orientais.
Um dos quatro elementos fundamentais da civilização ocidental, o vento no caso das pipas, passou rapidamente de inimigo a aliado, pois com o domínio correto de suas correntes e velocidades, o homem conseguiu inteligentemente chegar perto do sonho de voar. O grande mestre e pesquisador de pipas e ação dos ventos é um eolista, palavra criada a partir de Éolo, o deus dos ventos na mitologia grega. Quando Ulisses, famoso personagem do livro Odisséia, de Homero, chegou à ilha Eólia, foi muito bem recebido pelo rei, que o hospedou e a seus companheiros durante um mês.

Ao partir, o herói recebeu uma caixa contendo todos os ventos e que deveriam continuar aprisionados, com exceção de um, que, solto, levaria o navio diretamente de volta a Ítaca, sua cidade natal. No caminho os companheiros de Ulisses imprudentemente abriram a tampa, pensando que continha vinho. Saíram de dentro da caixa os ventos proibidos e furiosos que tocaram o navio para trás. Éolo entendendo que aquela gente teria alguma oculta maldição dos deuses, não os ajudou e ainda por cima os expulsou da Eólia.

A histórias das pipas data de muitos séculos e se confunde com a própria história da civilização, sendo utilizada como brinquedo, instrumento de defesa, arma, objeto artístico e de ornamentação. Conhecido como quadrado, pipa, papagaio, pandorga, barrilete ou outro nome dependendo da região ou país, ela é um velho conhecido de brincadeiras infantis. Todos nós, com maior ou menor sucesso, já tentamos empinar um. E temos obrigação de preservar sua beleza e simbologia, pois uma infância sem pipa certamente não é uma infância feliz. As pipas adornam, disputam espaço, fazem acrobacias, mapeiam os céus. São a extensão natural da mão, querendo tocar nas ilusões.

Ciência, Descobertas e Pesquisas 

Além do aspecto puramente lúdico, de lazer e encantamento diante das possibilidades de fazer com que os ventos trabalhem a nosso favor, as pipas, ao longo da história, tiveram uma importância fundamental nas pesquisas e descobertas científicas.

O inglês Roger Bacon, no ano de 1250, escreveu um longo estudo sobre as asas acionadas por pedais, tendo como base experiências realizadas com pipas. O gênio italiano Leonardo Da Vinci, em 1496, fez projetos teóricos com nada menos que 150 máquinas voadoras, também baseados na potencialidade das pipas.

No século 18, época das grandes descobertas, o brasileiro Bartolomeu de Gusmão mostrou os projetos de sua aeronave Passarola ao rei de Portugal, graças a estudos conseguidos através das pipas.
 

Em 1749, na Grã Bretanha, Alexandre Wilson empinou um série de seis pipas presas em uma mesma linha (trem), cada qual carregando um termômetro, conseguindo determinar as variações de temperatura, em função das diferentes altitudes.

Em 1752 uma experiência de Benjamim Franklin demonstrou definitivamente a impor-tância das pipas na história da Ciência.

Prendendo uma chave ao fio da pipa, ele empi-nou num dia de tempestade. Acontece que a eletricidade das nuvens foi captada pela chave e pelo fio molhado, descobrindo assim o para-raio. Em 1752 uma experiência de Benjamim Franklin demonstrou definitivamente a importância das pipas na história da Ciência. Prendendo uma chave ao fio da pipa, ele empinou num dia de tempestade. Acontece que a eletricidade das nuvens foi captada pela chave e pelo fio molhado, descobrindo assim o para-raio.

George Cayley, em 1809, realizou, através das pipas, o primeiro pouso acontecido na História, experiência com fundamentos aeronáuticos que mais tarde seria utilizado pela NASA através do engenheiro americano Francis M. Rogallo com as naves Apolo, que criou assim os pára-quedas ascensionais (parawings), que permitem ainda hoje um perfeito controle ao retorno à terra das cápsulas espaciais.
 


Foi através das pipas que o grande Santos Dumont conseguiu voar no famoso 14 Bis que, no final das contas não deixa de ser uma sofisticada pipa com motor.
 
Em 1894, B.F.S. Baden Pawell o irmão mais novo de Baden Pawell, o fundador do escotismo, elevou-se três metros do chão por um trem de quarto pipas hexagonais com 11 metros de envergadura cada, tornando-se o primeiro homem erguido do chão com auxílio de pipas, fato que mais tarde seria repetido em escala militar por exército durante a 1a Grande Guerra Mundial. Em 12 de dezembro de 1921, Marconi utilizou pipas para fazer experiências com a transmissão de radio, teste que, mais tarde, seriam utilizados por Graham Bell em seu invento, o telefone.

Mais recentemente, durante a II Guerra Mundial, uma pipa em forma de águia seria empregada pelos alemães para observar a movimentação das tropas aliadas ou como alvo móvel para exercícios de tiros.

Os exemplos se multiplicam. Nós brasileiros conhecemos as pipas através dos colonizadores portugueses por volta de 1596 que, por sua vez, as conheceram através de suas viagens ao Oriente. Um fato pouco conhecido de nossa História deu-se no Quilombo dos Palmares, quando sentinelas avançadas anunciavam por meio de pipas quando algum perigo se aproximava - mais uma prova de que a pipa era conhecida na África há muito mais tempo, pois os negros já cultuavam-na como oferenda aos deuses. A exemplo do Éolo da mitologia grega, os negros também tinham o seu deus dos ventos e das tempestades, personificado na figura de Iansã.

Através desses fatos temos uma gama muito grande de utilização das pipas através dos tempos. Elas simbolizam o poder espiritual dos homens, um grande instrumento na busca de novas descobertas e objeto capaz de tornar realidade o antigo desejo de voar, o sonho de Ícaro e de toda humanidade.