O Esporte Adaptado
Carta Internacional de Educação Física e Esporte - UNESCO (1978)Como é
possível perceber, o esporte é um fenômeno social universal, podendo
estar presente como instrumento de manifestação cultural, ideológica,
política, econômica, científica e social. (Prieto apud Tubino,
1987).Segundo Fanali (apud Araújo, 1997), hoje se compreende o esporte
contemporâneo (moderno/convencional) da seguinte forma:"Atividades
específicas de emulação na qual se valorizam intensamente as formas de
praticar os exercícios físicos para que o indivíduo ou um grupo chegue
ao aperfeiçoamento das possibilidades morfofisiológicas e psíquicas,
concretizando em recorde ou uma superação de si mesmo ou do concorrente.
Podemos entender como sendo a prática sistematizada de uma atividade
esportiva".Essa prática sistematizada de uma atividade esportiva não
contempla as pessoas deficientes que sofreram lesões medulares ou
perderam um ou mais membros do corpo durante as guerras, pois a
estrutura de jogo é limitante devido às regras existentes.
A realidade de grande parte dos portadores de
necessidades educativas especiais no Brasil e no mundo revela poucas
oportunidades para engajamento em atividades esportivas, seja com
objetivo de movimentar-se, jogar ou praticar um esporte ou atividade
física regular.
A prática de atividade física e/ou esportiva
por portadores de algum tipo de deficiência, sendo esta visual,
auditiva, mental ou física, pode proporcionar dentre todos os benefícios
da prática regular de atividade física que são mundialmente conhecidos,
a oportunidade de testar seus limites e potencialidades, prevenir as
enfermidades secundárias à sua deficiência e promover a integração
social do indivíduo.
As atividades físicas, esportivas ou de lazer
propostas aos portadores de deficiências físicas como os portadores de
seqüelas de poliomielite, lesados medulares, lesados cerebrais,
amputados, dentre outros, possui valores terapêuticos evidenciado
benefícios tanto na esfera física quanto psíquica.
Quanto ao físico, pode-se ressaltar ganhos de
agilidade no manejo da cadeira de rodas, de equilíbrio dinâmico ou
estático, de força muscular, de coordenação, coordenação motora,
dissociação de cinturas, de resistência física; enfim, o favorecimento
de sua readaptação ou adaptação física global (Lianza, 1985; Rosadas,
1989 e Souza, 1994). Na esfera psíquica, podemos observar ganhos
variados, como a melhora da auto-estima, integração social, redução da
agressividade, dentre outros benefícios ( Alencar, 1986; Souza, 1994;
Give it a go, 2001).
A escolha de uma modalidade esportiva pode
depender em grande parte das oportunidades que são oferecidas aos
portadores de deficiência física, da sua condição sócio-econômica, das
suas limitações e potencialidades, da suas preferências esportivas,
facilidade nos meios de locomoção e transporte, de materiais e locais
adequados, do estímulo e respaldo familiar, de profissionais preparados
para atende-los, dentre outros fatores.
Diversos autores como Guttman (1976b), Seaman
(1982), Lianza (1985), Sherrill (1986), Rosadas (1989), Souza (1994),
Schutz (1994) e Give it a go (2001), e ressaltam que os objetivos
estabelecidos para as atividades físicas ou esportivas para portadores
deficiência, seja esta física mental, auditiva ou individual devem
considerar e respeitar as limitações e potencialidades individuais do
aluno, adequando as atividades propostas a estes fatores, bem como
englobar objetivos, dentre outros:
- Melhoria e desenvolvimento de auto-estima, autovalorização e auto-imagem;
- o estímulo à independência e autonomia;
- a socialização com outros grupos;
- a experiência com suas possibilidades, potencialidades e limitações;
- a vivência de situações de sucesso e superação de situações de frustração;
- a melhoria das condições organo-funcional (aparelhos circulatório, respiratório, digestivo, reprodutor e excretor);
- melhoria na força e resistência muscular global;
- ganho de velocidade;
- aprimoramento da coordenação motora global e ritmo;
- melhora no equilíbrio estático e dinâmico;
- a possibilidade de acesso à prática do esporte como lazer, reabilitação e competição;
- prevenção de deficiências secundárias;
- promover e encorajar o movimento;
- motivação para atividades futuras;
- manutenção e promoção da saúde e condição física
- desenvolvimento de habilidades motoras e funcionais para melhor realização das atividades de vida diária
- desenvolvimento da capacidade de resolução de problemas.
Os jogos organizados sobre cadeira de rodas forma
conhecidos após a Segunda Guerra Mundial, onde esta tragédia na
história da humanidade fez com que muitos dos soldados que combateram
nas frentes de batalha voltassem aos seus países com seqüelas
permanentes. Porem este evento, terrível, proporcional ao portador de
deficiência, melhores condições de vida, pois os deficientes pós-guerra
eram heróis e tinham o respeito da população por isto, bem como uma
preocupação governamental (Guttman, 1981, Adms e col., 1985; Alencar,
1986 Cidade e Freitas, 1999).
O pós-guerra, de acordo com Assumpção (2002),
criou uma situação emergencial, onde a construção de centros de
reabilitação e treinamento vocacional, em todo o mundo foi extremamente
necessária. Os programas de reabilitação destes diferentes centros
perceberam que os esportes eram um importante auxiliar na reabilitação
dos veteranos de guerra que adquiriram algum tipo de deficiência.
As atividades desportivas foram introduzidas
em programas de reabilitação pelo Dr. Ludwig Guttmann no Centro de
Reabilitação de Stoke Mandeville no ano de 1944, como parte essencial no
tratamento médico de lesados medulares, auxiliando na restauração e
manutenção da atividade mental e na autoconfiança (Guttmann, 1981).
Concordando com o Dr. Guttmann, Sarrias
(1976), ressalta que o esporte pode ser um agente fisioterapêutico
atuando eficazmente na reabilitação social e psicologia do portador de
deficiência, não devendo ser considerada apenas como uma atividade
recreativa.
Os jogos paraolímpicos aconteceram
oficialmente em 1960 em Roma, sendo instituída pela Organização
Internacional de Esportes a realização dos Jogos Paraolímpicos após a
realização das Olimpíadas (Alencar, 1986).
Souza (1994), enfatiza que o esporte adaptado
deve ser considerado como uma alternativa lúdica e mais prazerosa,
sendo este parte do processo de reabilitação das pessoas portadoras de
deficiências físicas.
A ACMS (1997), relata que um programa de
atividades físicas para os portadores de deficiência física devem
observar a princípio se a adaptação dos esportes ou atividades mantendo
os mesmos objetivos e vantagens da atividade e dos esportes
convencionais, ou seja, aumentar a resistência cardio-respiratória, a
força, a resistência muscular, a flexibilidade, etc. Posteriormente,
observar se esta atividade possui um caráter terapêutico, auxiliando
efetivamente no processo de reabilitação destas pessoas.
Um outro ponto a considerar na elaboração de
atividades para os portadores de necessidades educativas especiais, em
destaque aqui o portador de deficiência física, é a necessidade de
adaptação dos materiais e equipamento, bem como a adaptação do local
onde esta atividade será realizada.
A redefinição dos objetivos do jogo, do
esporte ou da atividade se faz necessário, para melhor adequar estes
objetivos às necessidades do processo de reabilitação. Assim como
reduzir ou aumentar o tempo de duração das atividades, mas sempre com a
preocupação de manter os objetivos iniciais atingíveis.
A realização de atividades físicas,
esportivas e de lazer com deficientes, tem que respeitar todas as normas
de segurança, evitando novos acidentes, deve-se estar atento a todos os
tipos de movimentos a serem realizados, auxiliar o deficiente sempre
que necessário, e estimular sempre o desenvolvimento da sua
potencialidade.
Modalidades Esportivas
As modalidades esportivas para os portadores
de deficiências físicas são baseadas na classificação funcional e
atualmente apresentam uma grande variedade de opções. As modalidades
olímpicas são o arco e flecha, atletismo, basquetebol, bocha, ciclismo,
equitação, futebol, halterofilismo, iatismo, natação, rugby, tênis de
campo, tênis de mesa, tiro e voleibol ( ABRADECAR, 2002). Apresentaremos
algumas das modalidades esportivas, as mais conhecidas, que podem ser
praticadas pelos deficientes físicos, sendo:
LEVANTAMENTO DE PESO
O QUE É: É uma modalidade esportiva paraolímpica dividida em várias categorias de deficiência e praticada por ambos os sexos.
Arco e flecha: Esta modalidade esportiva
pode ser praticada por atletas andantes como amputados ou por atletas
usuários de cadeiras de rodas como os lesados medulares. Todas as
deficiências físicas podem participar desta modalidade esportivas,
respeitando estas duas categorias, em pé e sentado. A participação em
competições e o sistema de resultados são semelhantes à modalidade
convencional olímpica.
Atletismo: As provas de atletismo podem
ser disputadas por atletas com qualquer tipo de deficiência em
categorias masculina e feminina, pois os atletas são divididos por
classes de acordo com o seu grau de deficiência, que competem entre si
nas provas de pistas, campo, pentatlo e maratona. Esta é uma modalidade
esportiva que sofre freqüentes modificações, visando possibilitar
melhores condições técnicas para o desenvolvimento desta modalidade.
Basquetebol sobre rodas: é jogado por
lesados medulares, amputados, e atletas com poliomielite de ambos os
sexos. As regras utilizadas são similares à do basquetebol convencional,
sofrendo apenas algumas pequenas adaptações.
Bocha: Esta modalidade esportiva foi
adaptada para paralisados cerebrais severos. O objetivo do consiste em
lançar as bolas o mais perto possível da bola branca.
Ciclismo: Neste esporte participam
atletas paralisados cerebrais, cegos com guias e amputados nas
categorias masculina e feminina, individual ou por equipe. Pequenas
alterações foram realizadas nas regras do ciclismo convencional,
melhorando a segurança e a classificação dos atletas de acordo com sua
deficiência, possibilitando adaptações nas bicicletas. Os atletas
participam de provas de estrada, velódromo e contra-relógio.
Equitação: Os deficientes físicos
participam deste esporte apenas na categoria de habilidades. Para esto é
necessário analisar os possíveis deficientes que podem participar.
Esgrima: Este esporte é praticado por
atletas usuários de cadeira de rodas como os lesados medulares,
amputados e paralisados cerebrais em categorias masculina ou feminina.
Estes atletas participam das modalidades de espada, sabre e florete,
sendo provas individuais ou por equipes. Para participação em eventos
competitivos todos os atletas são presos ao solo, possuindo os
movimentos livres para tocar o corpo do adversário.
FUTEBOL DE CINCO
O QUE É: A modalidade é praticada por
deficientes visuais onde os jogadores se orientam por um guiso na bola.
As condições de quadra e regras são as mesmas do futsal praticado por
videntes.
As dimensões são as mesmas da quadra de
futsal - 40mx20. Porém, há uma pequena mudança na área do goleiro, visto
que a do Futebol de cinco é retangular, enquanto a do Futsal é
semicircular e bem maior. Esta mudança serve para reduzir o espaço de
ação dos goleiros. Os times têm oito jogadores e dois goleiros.
Em quadra, jogam quatro na linha e um no gol. O goleiro é vidente.
Atletas com diferentes graus de deficiência visual podem competir, porem são vendados para se igualarem.
GOLBOL
O QUE É: Esta modalidade é praticada por
deficiente visual onde os jogadores são orientados por um guiso na
bola, esta modalidade é exclusiva para deficientes visuais, de ambos os
sexos, onde os jogadores de uma equipe lançam a bola contra o gol da
equipe adversária e os jogadores desta equipe se deitam em frente ao gol
de sete metros, tentando evitar que a bola entre no gol.
DANÇAO QUE É: A dança que é uma modalidade esportiva de jogos de inverno, também é amplamente praticada por pessoas com deficiência em seus vários estilos.
Futebol: Nesta modalidade esportiva, sendo
que o atleta portador de paralisia cerebral compete na modalidade de
campo e o atleta amputado compete na modalidade de quadra. Alterações
nas regras como o número de jogadores, largura do gol e da marca do
pênalti estão presente.
Halterofilismo: Esta modalidade esportiva
é aberta a todos os atletas portadores de deficiência física do sexo
masculino e feminino. A divisão de acordo com o peso corporal em 10
categorias.
Iatismo: Todos os atletas deficientes
podem participar, as modificações são realizadas apenas no equipamento e
na tripulação, não havendo alterações nas regras da competição.
Lawn Bowls: é um esporte similar a Bocha, sendo este aberto à participação de todas os portadores de deficientes físicas.
Natação: As regras são as mesmas da
natação convencional com adaptações quanto as largadas, viradas e
chegadas. As provas são variados e os estilos abrangem os estilos
oficiais. As competições são realizadas entre atletas da mesma classe.
Podem participar desta modalidade esportiva portadores de qualquer
deficiência, sendo agrupados os portadores de deficiência visual e os
demais.
Racquetball: Este esporte pode ser praticado por atletas paralisados cerebral, é possui características similares ao tênis de mesa.
Rugby em cadeira de rodas: Esta
modalidade foi adaptada para lesados medulares com lesões altas -
tetraplégicos - que realizam um jogo com bola de voleibol com objetivo
de marcar pontos ao fazer com que a bola ultrapasse uma determinada
linha no fundo da quadra.
Tênis de campo: Esporte realizado em
cadeiras de rodas, independente do tipo de deficiência física que o
atleta possua nas categorias masculina e feminina. As regras sofrem
apenas uma adaptação em relação ao tênis de campo convencional, sendo
esta que a bola pode quicar duas vezes, a primeiro pingo deverá ser
dentro da quadra. As categorias são: masculino e feminino, individual e
em duplas.
Tênis de mesa: Deficientes físicos como o
lesado cerebral, lesado medular, amputados ou portador de qualquer tipo
de deficiência física pode-se participar desta modalidade esportiva,
onde as provas são realizadas em pé ou sentado. As provas podem ser
realizadas em duplas e individuais, sendo a classificação de acordo com o
nível de deficiência. As regras sofrem poucas modificações, em relação
ao tênis de mesa convencional.
Tiro ao alvo: Esporte aberto a atletas
com qualquer tipo de deficiência física do sexo masculino ou feminino,
nas categorias sentado e em pé. As equipes podem possuir atletas de
ambos os sexos e diferentes tipos de deficiência física. As provas podem
ser realizadas utilizando pistola ou carabina.
Voleibol: Poderá ser praticado por
atletas Lesados medulares que participaram da modalidade de voleibol
sentado e os amputados, que participarão desta modalidade em pé.
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