Ao abordarmos a historia da prática da capoeira no Brasil, devemos
antes de tudo resgatar a história da escravidão no Brasil do século XVI,
XVII, XVIII e XIX, quatrocentos anos de horrores e serviços forçados,
para alimentar uma elite rica e gananciosa que vivia para o acúmulo de
capitais.
Nesses quatrocentos anos as pessoas viveram o
nascimento, crescimento e expansão do Capitalismo. O Pré-capitalismo,
uma das primeiras fases da formação do capitalismo, também conhecido
como Mercantilismo, prática econômica baseada na compra e venda de
produtos, visando um maior acúmulo de capitais e ter uma balança de
comercio favorável, ou seja, vender mais que comprar, aumentava a
riqueza da burguesia, a burguesia atraves dos impostos aumentava a
riqueza da nobreza e do Rei. Era o nascimento das Monarquias Nacionais
do fortalecimento do poder central nas mãos do Rei.
Com as
Monarquias Nacionais as leis são unificadas, a moeda é unificada, pesos e
medidas são unificados, todos os tribunais são submetidos a autoridade
do Rei, dessa forma o comércio pode se expandir e crescer.
Quanto
mais o comércio crescia, mais se investia em conhecimento e ciencia
dando origem a expansão marítima e consequentemente a descoberta da
América.
Logo os europeus perceberam que estavam na vanguarda de
muitos conhecimentos em relação a outros povos do planeta. Com esses
conhecimentos e sua habilidade guerreira, experiência adquirida em
séculos de Cruzadas com os povos mulçumanos, o europeu passa a
diversificar a prática mercantilista estimulando o Colonialismo e é essa
pratica econômica que nos leva a escravidão.
O que era o
Colonialismo ? Simples. Baseava-se na prática de se obter matérias
primas a troco de nada, transforma-las em manufaturas ou seja,
mercadorias e vende-las bem caro na Europa, foi assim que a “mazela” de
diversos povos começaram, pois, não foi só o Negro que foi escravizado,
mais o silvícola americano, os asiáticos e diversos outros povos
passaram (e ainda passam, por incrivel que pareça !) por essa horrivel
experiência... As colônias perteciam aos Reis e suas terras não eram
distribuídas e sim arrendadas o que diminuia muito a possibilidade de
qualquer plebeu ser dono de terras nos novos mundos. E quem, em perfeito
juízo, deixaria seu país, sua terra, para ser servo na América, Africa
ou Asia ? Então, os brancos que por ventura apareciam por aqui, eram
grandes senhores de terra ou eram degredados, fugitivos, condenados pela
inquisição que fugiam da perseguição religiosa em seus países, eram
cristãos novos, judeus recem convertido que a igreja muito rígida na
epóca vivia a perseguir, muitos migravam por não ter mais nada a perder.
No caso do Brasil os portugueses precisavam cocretizar sua
efetiva colonização, pois, ingleses e franceses viviam a contrabandear
as riquezas do Brasil, o que na cabeça do Rei de Portugal era uma ofensa
gravissíma, afinal, ele acreditava que as terras do Brasil eram dele o
que configurava em roubo contrabandear tais riquezas.
A
colonização efetiva do Brasil começa trinta anos depois de sua
“descoberta” em 1500 por Pedro Alvarez Cabral, hoje motivo de certa
controvérsia, pois, existem teorias que comprovam a estadia do navegador
Duarte Pacheco em terras brasileiras no ano de 1498, mas isso é uma
outra história.
Após o iniciar o processo de colonização, os
portugueses passaram a explorar nossas riquezas e criar outras, o caso
da cana de açúcar, dentro desse processo, podemos dizer que passamos por
três ciclos econômicos diferentes:
Ciclo do Pau-Brasil :
Consistia
puramente em cortar e armazenar a madeira e levá-la para Europa, onde
era usada de várias formas. Porém, nesse primeiro Ciclo não precisou de
trabalho escravo, já que os silvícolas americanos, faziam esse trabalho
por algumas quinquilharias como, contas, pedrinhas de vidro,
espelhinhos, faca...
Ciclo da Cana de Açúcar:
Aqui começa a
história das senzalas, da escravidão e da capoeira, quando chegam os
primeiros negros para serem usados no trabalho escravo. O Negro chegou
para substituir o americano o “Negro da Terra”. Para a Coroa de Portugal
era difícil controlar o aprisionamento e a venda do Americano, pior, o
americano conhecia a região podia fugir para mata com facilidade, já o
Negro era mais fácil de controlar. O comércio era feito de continente
para continente de um país distante do outro lado do mar a Africa. Ao
entrar nas colõnias os escravos negros eram contados e contabilizados,
dessa forma o Rei podia fiscalizar muito melhor o tráfico. Este por sua
vez se tornava bem mais rentoso que o o tráfico do americano.
O
escravo negro não conhecia a terra e nem os dialetos falados aqui, a
região, o clima, animais, plantas, nada disso ele conhecia, separado da
família e dos amigos, o Negro tinha um só direitro, trabalhar, trabalhar
e apanhar...Nesse ambiente nasce o espirito de camaradagem entre os
escravos de várias culturas diferentes e é dessa forma, dessa mistura de
culturas africanas nasce a capoeira, nasceu brinquedo, dança, jogo.
Ajudava aos escravos matar a saudade da terra atraves da música, do
batuque e das histórias contadas nas rodas era um momento de alegria, um
dos poucos...
Ciclo da Mineração:
O ciclo do ouro trás
várias mudanças na sociedade colonial, como o ouro era uma riqueza de
fácil acesso, requer só uma batéia (teoricamente), era fácil encontrar
homem livre e ate mesmo escravo que enriquecia com a descoberta do ouro.
Nessa época houve uma mudança significativa na vida social da
colônia, nasce uma classe média que crescia conforme crescia, a
exploração do ouro, afinal os mineiros precisavam comer, beber, dormir,
morar, ou seja a extração do ouro possibilitou o nascimento de uma
classe social que sze sustentava prestando serviços aos mineradores de
então.
Neste contexto urbano nasce uma nova capoeira que agora
sai das senzalas e chega as ruas, as praças e aos largos das principais
Capitanias da Colônia, pela primeira vez, encontramos uma classe média
atuante na Colônia. O ouro gerou uma riqueza muito grande que foi
utilizada na urbanização das cidades, estas atraia todo tipo de gente,
aumentando muito a diversidade cultural o que contribuiu para a expansão
da capoeira.
Aprendia-se a capoeira jogando e observando as
rodas nas festas religiosas das praças, ainda não era vista como prática
criminosa, porém era vista como jogo de negros, o que a tornova
extramente marginalizada pela sociedade branca das cidades.
I REINADO
No
Primeiro Reinado a capoeira já era proibida, mas ainda não fazia parte
do código penal, porém era reprimida e punida com chicotadas e trabalhos
forçados era praticada por negros escravos, livres, mulatos, mamelucos,
brancos e estrangeiros.
Nas cidades a pratica da capoeira era
controlada pelas Maltas que se espalhavam por todas as grandes cidades e
eram divididas pelos bairros, esses eram controlados por maltas de
capoeiristas rivais. Na verdade isso é fácil de entender, em um país
onde a maioria era negra, controlados por uma minoria branca, claro que
teremos uma parte enorme da sociedade que vai viver a margem da mesma,
levando a formação das maltas que seriam a organização dos excluídos
pelo sistema da época. Durante todo I Reinado não houve nenhuma lei que
trata-se dos negros com dignidade, pelo contrário, as leis so favoreciam
a Elite “pensante” da epoca.
II REINADO
No segundo
reinado por pressões inglesas, o Governo brasileiro começou a criar
algumas leis em prol do negro, porém algumas beneficiaram muito mais aos
Srs do que aos próprios negros, leis como:
Lei do Ventre-livre,
essa é muito boa! A partir da promulgação desta lei todo o escravo
nasceria livre, mas, teria que ficar na fazenda do seu Sr. Até ser de
maior e poder viver sua vida, enquanto esperava a sua maioridade
trabalhava para o Sr., sem ganhar nada é claro...
Lei do
sexagenário, também muito boa! Após os sessenta anos todo escravo era
livre. Imagine que um escravo tinha uma média de vida de 25 a 30 anos,
chegar aos sessenta era um mérito! Porém, essa lei vai beneficiar muito
mais aos Srs, aos sessenta o escravo já esta velho e cansado para não
ter que alimenta-lo sem que ele trabalhasse era só recorrer a essa lei e
pronto, lá estava o Sr. Livre do escravo.
Lei Aurea 13/05/1888.
Concordo, libertou finalmente os escravos, mas sem política pública
nenhuma o que manteve o negro a margem de nossa sociedade.
Enquanto
esses eventos políticos aconteciam a capoeira crescia, evoluia,
tornava-se arma das pessoas que viviam nas ruas, não era só o negro
praticante da capoeira, como já escrevi, o praticante era, mulato,
mameluco, negro, branco, todos essas raças contribuiram para moldar a
capoeira moderna de hoje.
A partir da segunda metade do sec. XIX o
berimbau passa a figurar nas rodas de capoeira. Até então as rodas eram
marcadas pelo ritmo do atabaque, pandeiro e outros instrumentos de
percurssão, com a entrada do berimbau começamos a ver surgir a capoeira
moderna de Pastinha e Bimba.
As Cidades do Rio de Janeiro,
Salvador e São Luís, eram os maiores focos da prática da capoeira
urbana, onde havia concentração de pessoas, lá estava a capoeira. Nessa
epoca ela ainda não era ensinada em academias e se aprendia a capoeira
jogando a capoeira, nas ruas no dia à dia, observando os outros a jogar,
era essa a única maneira de se aprender a tão temida capoeira.
REPÚBLICA
Em
1892 a capoeira passa a fazer parte do código penal artigo 402, até
então ela já era proibida, porém só a partir dessa data que ela passa a
fazer parte do código penal. A pessoa que fosse pega jogando a capoeira
era preso e mandado para a Ilha de Fernando de Noronha para fazer
trabalhos forçados durante 4 à 6 meses.
Só no primeiro ano de
vigência da lei o Chefe de Polícia do Rio de Janiero, Sampaio Ferraz
mandou para Fernando Noronha cerca de 400 capoeiristas, sendo que desses
400, 65% foram considerados brancos, 20% estrangeiros e apenas 15% de
negros, como se vê ela já era muito utilizada por diversas raças
diferentes, pois não impotava a raça em si e sim a situação soçial da
pessoa, pobre e marginalizado era capoeirista na certa ! Porém isso não
impediu que muitos homens ricos praticassem a capoeira, sendo que a
maioria desses homens eram boêmios, da noite, conheciam a malandragem
popular e sabiam usa-la a seu favor quando precisavam.
A partir
da década de 1920, passa a surgir um sentimento nacionalista nas artes,
política e cultura do Brasil, era a Semana da Arte Moderna de 1922, que
sacudiu o Brasil com seu resgate a cultura genuinamente Nacional, surge
então com força total a capoeira, agora como Ginástica Nacional
Brasileira, idealizado por Burlamarqui, mestre Zuma, que em 1928, formou o primeiro manual da capoeira sem mestre, método didático, onde o leitor atraves do livro tinha conhecimento da capoeira como jogo, como luta.
Nessa epoca mestre Bimba e mestre Pastinha já são famosos como Mestres bahianos em 1923, mestre
Bimba, cria a capoeira Regional da Bahia, uma ramificação da capoeira
de Angola, que até então era chamada, apenas de capoeira e só, quando mestre
Bimba colocou o nome Regional, Pastinha então chamou a dele de Angola,
para diferenciar uma da outra, conhecida nos meios da capoeira como a
capoeira Mãe, pois, mestre
Bimba, tentando transformar a capoeira mais objetiva para a luta
acrescentou vários golpes de outras artes marciais na capoeira de Angola
o que prova que a capoeira continuava a evoluir e acompanhar o seu
tempo.
Em 1933, após uma apresentação de mestre
Bimba e seus alunos para o então interventor da Bahia a capoeira é
finalmente liberada, deixando de fazer parte do código penal e dando
início a uma nova era para a capoeira no Brasil.
Em 1950 o mesmo mestre Bimba faz outra apresentação, dessa vez para o próprio Getúlio Vargas, o que faz a capoeira bahiana ainda mais famosa.
A
partir de Bimba e Pastinha a capoeira passa a ser ensinada nas
academias, com metodologia propria e qualquer uma pessoa passa a ter
acesso a capoeira.
Nas décadas de 1960, 70, 80 e 90, a capoeira
se torna uma profissão, uma realidade para muitos Mestres e Professores
brasileiros que passam a ensinar hoje em grandes grupos dentro e fora do
Brasil.
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